quinta-feira, 25 de abril de 2013

A vida, o corpo e o movimento na educação infantil.


Bete Godoy

Este material foi produzido a partir dos encontros de formação no CEI Vila Flavia em São Mateus e teve como foco de estudo:
§  Compreender o papel do adulto no estímulo às interações.
§  A organização de ambientes seguros e desafiadores para as crianças do berçário.
§  O que é o movimento?
§  A vida, o corpo e o movimento na constituição do sujeito.
§  As competências motoras e sua relação com o biológico e social.



A proposta feita para as professoras Juliana, Célia e Luciene após estudo, planejamento e realização da atividade foi a  apreciação e análise do vídeo e das fotos do seu próprio trabalho.
A qualidade da filmagem estava um tanto comprometida para edição final, então, como roteiro de trabalho foi solicitado que selecionassem algumas fotos tendo como proposta o olhar para as seguintes palavras que estão intimamente ligadas ao corpo e movimento:

  • Desafio
  • Equilíbrio
  • Segurança
  • Curiosidade
  • Características individuais
  • Interações
  • Experiência

Em que momento da atividade é possível encontrar estas palavras nas ações das crianças?
Escolham três ou mais palavras para acrescentar. Em que momento do trabalho elas aparecem?
Qual a comunicação entre a fotografia e o movimento? É possível ver  movimento numa imagem fotográfica?
Pense numa imagem, som ou em uma expressão corporal que para você “represente” a vida, o corpo e o movimento.
Qual intervenção vocês farão numa próxima atividade como esta, pensando em desafios motores e os demais sentidos?

Todo este trabalho foi documentado, visando o oferecimento de uma rica oportunidade de pensar, intervir e avançar nos conhecimentos que professores já sabem a respeito do movimento.
Durante os momentos de estudo, pesquisa e conversa com professores  a escuta atenta do formador não teve a intenção de procurar imperfeições nas práticas, mas sim de ouvir aquilo em que pensam, que revelam, sentem e o modo como compreendem a vida, as relações, o mundo, os fazeres, os sentimentos...tudo isso é movimento.
Se para a criança é importante sentir-se segura com o adulto experiente que dela cuida, para o professor também é importante ver e saber que o formador é alguém que acredita no seu potencial, que tem orgulho dos seus avanços e é antes tudo um parceiro que reconhece que o seu sucesso como formador se reflete na disposição do professor e da sua dedicação e compromisso em querer aprender sempre.
 
 
Um pouquinho do muito que estudamos:

O corpo em movimento
 Desde o nascimento, o indivíduo se depara com os problemas gerados pelo mundo que o cerca. E, a partir das experiências, ele se relaciona com o mundo das coisas e o mundo das pessoas por meio do seu corpo, que se transforma no elo que permite a ligação do ser humano com o meio que o circunda.



Cada ser humano é único possui seu peculiar esquema de desenvolvimento, isso define sua individualidade. Nasce dotado de características próprias que determinam sua maneira de ser, de agir e de pensar. Tudo o que faz para conhecer, para se relacionar, para aprender, o faz pelo corpo. Suas primeiras experiências vividas são essencialmente corporais, tatuando marcas em seu inconsciente corporal. O corpo é o primeiro objeto que a criança percebe por meio de suas satisfações, de suas dores, das sensações visuais e auditivas. É o seu meio de ação para conhecer o mundo a sua volta. Podemos dizer que o recém- nascido já acumula experiências que se tornam alicerces do seu desenvolvimento. Ele interage com o meio ambiente numa dinâmica ação corporal. Aqueles que cuidam da criança devem compreender seus esquemas de crescimento, respeitar os princípios da sua evolução, entender os fatores que determinam cada fase da sua vida infantil.


Não temos mais aquela idéia de que as capacidades que demonstramos ao nascer determinam nossas possibilidades de ser, pois agora sabemos que as nossas experiências vividas ao longo dos anos podem ampliar as nossas “janelas de aprendizagens” (Gardner,1999).
Necessitamos ver a criança de forma integral, porém sabemos que dificilmente conseguiremos reconhecer todas as potencialidades que a criança possui apenas estando diante de suas expressões, pois o seu potencial de ação depende das oportunidades de experiências que ela poderá vivenciar. Isso significa que não podemos ignorar as influências que o meio ambiente tem no crescimento da criança, as diferentes possibilidades de relacionamento com o outro e as ricas vivências que ela pode experimentar.


A chave dessa exploração se dá pelo movimento. E por essa razão devemos oferecer uma grande variedade de movimentos, para que seu corpo possa experimentar ações diferentes das habituais que a criança executa. Dominar o seu corpo e conhecê-lo pode trazer melhor relacionamento. Seu corpo é instrumento de ação. Não é preciso ter o corpo mais bonito ou mais forte, nem mesmo ser o mais veloz ou o mais resistente, mas sim, possuir uma grande variedade de movimentos, inúmeros gestos como forma de expressão até dos seus sentimentos. O conhecimento do próprio corpo se faz desde as primeiras descobertas que ocorrem na interação da criança com o ambiente por meio de seus movimentos.


O ser humano se desenvolve sempre experimentando e, assim, se aprimora e se aperfeiçoa. Para Sergio (1986), o homem está sempre tentando passar do reino das necessidades para o reino da liberdade. Ele precisa agir para superar-se.



A corporeidade da criança em sua existência via motricidade, deve ser intensamente estimulada na direção do se conhecer mais, isso trará resultados no futuro, podendo, com isto, viver melhor.

Como o professor pode intervir para promover avanços nas aprendizagens ligadas ao movimento?
Encorajar as crianças a explorar suas potencialidades de movimento, ao invés de fixar os “jeitos corretos”, é o grande desafio de uma educação física que conhece o desenvolvimento motor. Isso não quer dizer que o professor não deva fornecer informações às crianças sobre os caminhos para encontrar melhores soluções, demonstrar movimentos que ele conhece ou chamar a atenção da criança para a maneira como um colega resolveu aquele desafio.


Se a criança está tentando aprender a virar uma cambalhota, o educador pode sugerir:
 - Que tal você experimentar colocar o seu queixo no peito e abaixar bem a cabeça? Observe os objetos que rolam. E se você tentar enrolar o corpo como uma bola, será que não é mais fácil? Você está usando os braços?
São questões que o educador pode colocar ao aluno para que ele encontre uma relativa consistência na aprendizagem deste movimento.
O educador também pode propor uma série de situações de exploração e descoberta deste movimento, instruindo:
- Que tal virar cambalhota em um plano inclinado, como um declive de grama presente no parque? Que  outras formas nosso corpo tem para rolar?


Oferecer inexploradas possibilidades:
-Podemos experimentar rolar com um amigo? Rolar carregando uma bola macia?
O professor precisa também ter uma possibilidade corporal para se envolver no processo ensino-aprendizagem, precisa resgatar em sua própria vida o prazer pelo movimento.


AGRADECIMENTOS:
Professoras:
        Juliana Terumi Hokama
        Célia Moura de Andrade e
        Luciene M. dos Santos  Barbosa
Diretora: Sebastiana P. Santos Sousa
Coordenadora Pedagógica: Maria Elisa Diogo dos Penedos
Assistente Administrativo: Regiane Ap. Ramos

Um trabalho realizado por Bete Godoy,  Patricia Rocha e Maria Elisa

Bibliografia deste artigo

-Nista-Piccolo, Vilma Leni e Moreira, Wagner Wey. O corpo em movimento da educação infantil. Editora Cortez.
-Artigo: Identidade e Autonomia. Revista Nova Escola.
-Artigo:  A criança e o movimento de Isabel Porto Figueiras- Revista Avisa lá, nº 11


                                                                                                 Revisão do texto: Quitéria Campanaro

terça-feira, 23 de abril de 2013

Ensinar sobre o Dia do Índio sem estereótipos

Selma Moura

Pois é, hoje é o Dia do Índio. E já de manhã dei de cara na internet com bem-intencionadas, porém totalmente inadequadas, atividades de professores de ensino fundamental para “comemorar” a data. Atividades muito parecidas com as que fiz mais de 30 anos atrás quando era aluna de uma escola estadual, e que não me ensinaram nada sobre os índios. Fiquei frustrada. Até quando os professores vão continuar perpetuando preconceitos e estereótipos?
Veja abaixo exemplos do que não fazer com seus alunos hoje (nem nunca):
E por que não fazer atividades com as mostradas acima? Eis mais algumas razões:
  • Por que não ensinam nada sobre os índios reais, que existem pelo Brasil
  • Por que criam e reforçam preconceitos e estereótipos (do índio seminu vivendo na floresta, feliz inocente e contente, sem problemas e sem influências de outros povos e culturas, congelados no tempo e no espaço)
  • Por que tratam os povos indígenas como se fossem uma coisa só, quando há dezenas de etnias indígenas e uma enorme diversidade entre os chamados genericamente de “índios”.
  • Por que são falsos (indiazinha chamada Jaci? Cocar de penas e palitos?)
  • Porque prejudicam a criatividade da criança: todas devem fazer a mesma atividade, do mesmo jeito, e não têm espaço de pensar, criar ou propor nada.
Então, se isso é ruim, o que fazer com os alunos no Dia do Índio? Algumas ideias legais:
  • Traga uma ou mais notícias sobre o que está acontecendo com os povos indígenas no Brasil para ler e discutir com seus alunos
  • Conte um mito ou lenda indígena, como os presentes nos livros infantis deDaniel Munduruku (aliás, esse autor precisa estar presente em todas as escolas de educação infantil e ensino fundamental, pois seus livros são maravilhosos)

  • Escolha um povo indígena para pesquisar e saber mais sobre suas condições de vida, a área que habitam, seus costumes, seus problemas e sua história. Veja alguns povos indígenas no site do Instituto Socioambiental.
  • Se quiser trabalhar a representação dos povos indígenas na Arte, uma dica é conhecer o trabalho de Élon Brasil (veja seu site, que lindo!), um pintor incrível que representa índios do Xingu (entre outros) com muita sensibilidade. Veja mais aqui.

Tela de Elon Brasil

  • Se quiser trabalhar com a brincadeira e o lúdico, há um livro maravilhoso chamado “Jogos e Brincadeiras do Povo Kalapalo”, acompanhado por documentário em DVD, disponível na loja do SESC aqui. 
  • E para ensinar a partir da linguagem da Música, uma dica é o trabalho delicado e perfeccionista feito pelo grupo Mawaca no cd e dvd Rupestres Sonoros (conheça aqui).
O grupo Mawaca recolhe e registra músicas de povos indígenas, apresentadas em shows, cds e dvds
O grupo Mawaca recolhe e registra músicas de povos indígenas, apresentadas em shows, cds e dvds

Show "Cantos da Floresta", do grupo Mawaca
O Show “Cantos da Floresta”, do grupo Mawaca abre espaço a povos indígenas apresentarem um pouco de sua cultura

Para se apaixonar – e mostrar aos alunos a beleza da música indígena – veja o vídeo:

http://youtu.be/tvWSpNbtthY

http://youtu.be/vk-6IRVu7DY

Dá para ser criativo, crítico e ensinar de verdade sobre a beleza e a riqueza cultural dos povos indígenas, mas para isso você precisa pesquisar e estudar também. Espero que as dicas acima sejam úteis. E para sua formação sobre culturas e diversidade cultural, recomendo a leitura do textto “Culturas, Culturas e Educação, de Veiga Neto, disponível para download.
Bom trabalho não só no Dia do Índio, mas todos os dias!
Selma
Veja também:

O que (não) fazer no Dia do Índio Na data em homenagem aos primeiros habitantes do Brasil, uma série de estereótipos e preconceitos costuma invadir a sala de aula. Saiba como evitá-los e confira algumas propostas de especialistas de quais conteúdos trabalhar

Ricardo Ampudia

Dia do índio

O Dia do Índio é comemorado em 19 de abril no Brasil para lembrar a data histórica de 1940, quando se deu o Primeiro Congresso Indigenista Interamericano. O evento quase fracassou nos dias de abertura, mas teve sucesso no dia 19, assim que as lideranças indígenas deixaram a desconfiança e o medo de lado e apareceram para discutir seus direitos, em um encontro marcante.

Por ocasião da data, é comum encontrar nas escolas comemorações com fantasias, crianças pintadas, música e atividades culturais. No entanto, especialistas questionam a maneira como algumas dessas práticas são conduzidas e afirmam que, além de reproduzir antigos preconceitos e estereótipos, não geram aprendizagem alguma. "O índigena trabalhado em sala de aula hoje é, muitas vezes, aquele indígena de 1500 e parece que ele só se mantém índio se permanecer daquele modo. É preciso mostrar que o índio é contemporâneo e tem os mesmos direitos que muitos de nós, 'brancos'", diz a coordenadora de Educação Indígena no Acre, Maria do Socorro de Oliveira.
Saiba o que fazer e o que não fazer no Dia do Índio:

1. Não use o Dia do Índio para mitificar a figura do indígena, com atividades que incluam vestir as crianças com cocares ou pintá-las.
Faça uma discussão sobre a cultura indígena usando fotos, vídeos, música e a vasta literatura de contos indígenas. "Ser índio não é estar nu ou pintado, não é algo que se veste. A cultura indígena faz parte da essência da pessoa. Não se deixa de ser índio por viver na sociedade contemporânea", explica a antropóloga Majoí Gongora, do Instituto Socioambiental.

2. Não reproduza preconceitos em sala de aula, mostrando o indígena como um ser à parte da sociedade ocidental, que anda nu pela mata e vive da caça de animais selvagens

Mostre aos alunos que os povos indígenas não vivem mais como em 1500. Hoje, muitos têm acesso à tecnologia, à universidade e a tudo o que a cidade proporciona. Nem por isso deixam de ser indígenas e de preservar a cultura e os costumes.

3. Não represente o índio com uma gravura de livro, ou um tupinambá do século 14

Sempre recorra a exemplos reais e explique qual é a etnia, a língua falada, o local e os costumes. Explique que o Brasil tem cerca de 230 povos indígenas, que falam cerca de 180 línguas. Cada etnia tem sua identidade, rituais, modo de vestir e de se organizar. Não se prenda a uma etnia. Fale, por exemplo, dos Ashinkas, que têm ligação com o império Inca; dos povos não-contatados e dos Pankararu, que vivem na Zona Sul de São Paulo.

4. Não faça do 19 de abril o único dia do índio na escola

A Lei 11.645/08 inclui a cultura indígena no currículo escolar brasileiro. Por que não incluir no planejamento de História, de Língua Portuguesa e de Geografia discussões e atividades sobre a cultura indígena, ao longo do ano todo? Procure material de referência e elabore aulas que proponham uma discussão sobre cultura indígena ou sobre elementos que a emprestou à nossa vida, seja na língua, na alimentação, na arte ou na medicina.

5. Não tente reproduzir as casas e aldeias de maneira simplificada, com maquetes de ocas

"Oca" é uma palavra tupi, que não se aplica a outros povos. O formato de cada habitação varia de acordo com a etnia e diz respeito ao seu modo de organização social. Prefira mostrar fotos ou vídeos.

6. Não utilize a figura do índio só para discussões sobre como o homem branco influencia suas vidas

Debata sobre o que podemos aprender com esses povos. Em relação à sustentabilidade, por exemplo, como poderíamos aprender a nos sentir parte da terra e a cuidar melhor dela, tal como fazem e valorizam as sociedades indígenas?
Quer saber mais?
Consultoria:
Maria do Socorro de Oliveira, coordenadora de Educação Escolar Indígena d a Sec. De Educação do estado do Acre
Majoí Gongora, Antropóloga do programa de Povos Indígenas do Brasil do Instituto Socioambiental

O site do Instituto Socioambiental mantém o projeto Povos Indígenas no Brasil que traz uma descrição de várias etnias com uma versão para crianças, com jogos e animações e também uma Sala do Professor

A temática indígena na escola, de Aracy Lopes da Silva, no Domínio Público.

Matéria na integra: Revista Nova escola - Abril/2011