domingo, 25 de abril de 2010

A Literatura e a Criança

Bete Godoy


Sempre que uma atividade intelectual se manifesta por intermédio da palavra, cai, desde logo no domínio da Literatura. A literatura, porém, não abrange apenas, o que se encontra escrito, se bem que essa pareça à maneira mais fácil de reconhecê-la, talvez pela associação que se estabeleça entre “literatura” e “letras”.

A literatura precede o alfabeto. Os iletrados possuem sua literatura. Os povos primitivos alheios às disciplinas de ler e escrever, também compunha seus cânticos, suas lendas, suas histórias, exemplificando sua experiência e sua moral com provérbios, adivinhações, representações dramáticas transmitidos de memória em memória e de boca em boca.

Afinal de contas, a literatura infantil faz parte da literatura geral? Evidentemente, tudo é uma literatura só. A dificuldade está em delimitar o que se considera como especialmente do âmbito infantil.


As primeiras obras infantis surgiram no final do século XVII, mas é a partir do século XVIII que a criança passa a ser considerada um ser diferente do adulto, com necessidades e características próprias e deveria receber uma educação especial, que a preparasse para a vida adulta. O escritor francês Charles Perreault realizou a coleta de contos populares e foi o responsável pelo primeiro surto de literatura infantil (Contos de Fada).


As obras literárias deste período assumiram o papel de distração e mercadoria, por serem manipuladas pela burguesia que produzia livros com conceitos visando moldar as crianças segundo os seus interesses financeiros; mas no decorrer dos anos, a Literatura Infantil passou a ser vista sob um novo aspecto.


No Brasil, a Literatura Infantil só chegou ao final do século XIX. A literatura oral prevaleceu até esse período com o misticismo e o folclore das culturas indígenas, africanas e européias. Carlos Jansen e Alberto Figueiredo Pimentel foram os primeiros brasileiros a se preocuparem com a literatura infantil no país, traduzindo as mais significativas páginas dos hoje considerados "clássicos" para a garotada. Com Thales de Andrade, em 1917, é que a literatura infantil nacional teve início. E foi em 1921 que nosso grande Monteiro Lobato estreou com "Narizinho Arrebitado", apresentando ao mundo Emília, a mais moderna e encantadora fada humanizada.
No entanto, só após a década de 70 houve um grande desenvolvimento da literatura para crianças com a entrada de grandes editoras no mercado.

O livro infantil é, então, relativamente recente. È preciso esclarecer de que livro está se falando, pois nessa categoria se incluem os livros de aprender a ler, os livros das diferentes disciplinas escolares; os que não são caracterizados pela aprendizagem formal; os livros sem palavras, os chamados álbuns de gravuras, que representam uma comunicação visual pelo desenho-anterior as letras.

A literatura é um agente formador por excelência, então o professor precisa estar atento às transformações do momento e reorganizar seu próprio conhecimento ou consciência de mundo.

Cada época compreendeu e produziu literatura a seu modo, conhecer a literatura que cada época destinou as crianças e jovens, é conhecer os ideais e valores que fundamentam a sociedade, sem essa critica qualquer ação educativa é sustentáculo da condição de alienação.

Disse Hitler: ”num país onde há muitos escritores e poetas, não há prosperidade”, e Cecília Meireles, “a literatura não é, como tantos supõem, um passatempo. È uma nutrição”. Poetas e escritores fazem parte de um universo de cultura muito amplo: a literatura.


A Literatura é a expressão do belo, fenômeno de criatividade que representa o mundo, homem, a vida, através da palavra, portanto é arte. È um instrumento de difusão de valores pessoais, coletivos, morais, sociais, enfim, é uma expressão “da alma” de alguém face ao mundo.

O que se propõe como princípio que deve orientar o fazer pedagógico é que, entrar no universo da leitura e escrita é operar com signos e significados dentro de um mundo pleno de valores e de sentidos historicamente produzidos e socialmente marcados. Para Luiz Percival Leme de Brito quando se pensa em um sujeito autônomo supõe por em questão as formas de dominação.

O desafio da educação infantil é construir bases para que as crianças possam desenvolver-se como pessoas plenas e de direitos e, assim participar da cultura escrita. Ser pessoas desejosas de embrenhar-se em outros mundos possíveis que a literatura nos oferece, dispostas a identificar-se com os outros semelhantes ou solidarizar-se com o diferente e capaz de apreciar qualidade literária.

No próximo artigo trataremos das questões didáticas que envolvem literatura trazendo boas práticas leitoras e escritoras na educação infantil.

Para saber mais:Matéria literária e seus fatores estruturantes

A invenção transformada em palavras é o que chamamos de matéria literária (narrativa, poética ou dramática). È, pois, da arte do autor em inventar ou manipular esses processos e recursos que resulta a matéria literária.
Na composição da matéria narrativa, entram dez fatores estruturantes:
1-O narrador: a voz que fala, enunciando a efabulação.
2-O foco narrativo: o ângulo ou a perspectiva de visão, escolhida pelo narrador para ver os fatos e relatá-los.
3-A história: a intriga, o argumento, enredo, situação problemática, assunto, etc.
4-A efabulação:a trama da ação ou dos acontecimentos, seqüência dos fatos, peripécias ,sucessos,situações, a trama.
5-O gênero narrativo: depende da natureza do conhecimento de mundo e implícito na narrativa podendo assumir três formas distintas: conto, novela, e romance.
6-Personagens: aqueles que vivem a ação.
7-Espaços: ambiente, cenário, paisagem, local.
8-Tempo: período de duração da situação narrada.
9-A linguagem ou discurso narrativo: elemento concretizador da invenção literária.
10-Leitor ou ouvinte: o provável destinatário, visado pela comunicação.

O gênero narrativo e apresenta de três formas distintas

CONTO: tudo no conto é condensado, a efabulação ocorre entorno de uma única ação ou situação, a característica das personagens e do espaço é breve, a duração temporal é curta.
Ele registra um momento significativo na vida da(s) personagem (s), exige concisão e trata de fixar um fragmento da vida.
NOVELA: resulta de uma visão de mundo complexa. È uma longa narrativa estruturada (várias pequenas narrativas, independentes entre si) cuja unidade global é dada pela presença de um elemento coordenador.
Várias aventuras acontecem junto com a trama central, o que predomina é o acontecimento interessa mais o que as personagens fazem, do que os seus problemas interiores ou o que elas são.
ROMANCE: a visão de mundo que fundamenta a forma romance é a de um universo organizado em torno de um sistema de valores coeso e unificado por um pensamento ordenado. Se desenvolve em torno de um único eixo dramático, são muitos os acontecimentos encadeados pela efabulação, mas , todos ligados diretamente ao eixo central, por este justificado.

Linguagem Simbólica

FÁBULAS: animais que representam idéias, intenções, conceitos e vivem situações exemplares.
APÓLOGOS: utilização de seres inanimados que adquirem vida e falam ou agem como humanos em situações exemplares.
PARÁBOLAS: alusão ou analogia que permite uma situação comum, cotidiana, vivida por homens ou mulheres, seja compreendida de imediato em outro nível de significação mais alta, que amplia aquele cotidiano particular e precário para um significado moral amplo e perene ligado ao espírito humano.
ALEGORIA: pela transposição de sentido de um todo completo, do nível narrativo para o nível ideológico, no qual aquele todo completo adquire uma significação diferente daquela que o nível narrativo apresenta.
A linguagem metafórica também é utilizada nas lendas e mitos.
LENDA: tradição oral ou narrativa escrita de atos praticados por santos ou heróis, conforme a fantasia popular.
MITO: narrativa fabulosa transmitida pela tradição, referente a deuses que encarnam simbolicamente as forças da natureza, os aspectos da condição humana. Imagem simplificada, freqüentemente ilusória, que grupos humanos elaboram, aceitam e que tem um papel determinado no seu comportamento.
Bibliografia
-RAMOS,Maria Cecília Mattoso.Exploração da literatura infantil e juvenil em sala de aula.São Paulo,Editora Moderna.
-MEIRELES,Cecília.Problemas da literatura infantil.Rio de Janeiro,Editora Nova Fronteira.
-LAJOLO,Mariza e ZIBERMAN,Regina.Literatura infantil brasileira.São Paulo,Editora Ática.
-COELHO,Neli Novaes.Literatura infantil:teoria,análise e didática.São Paulo,Editora Moderna.
-REGO,Lúcia Browne. Literatura infantil uma nova perspectiva da alfabetização na pré-escola.São Paulo FTD.
-LERNER, Délia. Ler na escola. O real, o possível e o necessário. São Paulo. Artmed.
-FARIAS, Ana Lúcia G e Mello, Sueli Amaral. Linguagens Infantis e outras formas de leitura. São Paulo. Autores Associados.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Ampliação do repertório cultural

Maria Cristina dos Santos
Costumo dizer que ninguém pode dar aquilo que não tem, sendo assim, quanto mais variado for o repertório cultural do professor, mais criativas podem ser as relações a serem feitas em sala de aula; linguagens artísticas permitem ampliar o entendimento de temas diversos.
“Se um professor possui um repertório cultural pobre, sua prática docente será mais pobre.” É com essa fórmula direta que a pesquisadora Monique Andries Nogueira exemplifica os resultados de uma lacuna na formação do professor brasileiro: a falta de uma bagagem artística e cultural consistente, capaz de estabelecer em sala de aula relações entre o conteúdo programático e as artes plásticas, o cinema, a música, a dança, a literatura – as artes em geral, enfim – de modo a revelar as convergências ou similaridades entre os percursos da história do pensamento e da expressão humanos.
“Quase ninguém deixa de reconhecer a importância de uma boa formação cultural, mas esse tema não aparece nas reformas curriculares dos cursos universitários”, afirma. Para a pesquisadora, o professor com formação cultural mais ampla evolui em dois níveis, com ganhos não só em sala de aula, mas também de ordem pessoal. “Cobra-se muito o domínio do conteúdo, o que é natural, mas não a formação cultural, que considero primordial”, afirma.
Segundo Pricilla, da UFSC, especialmente na área em que ela atua, a educação infantil, o professor com maior repertório faz uma leitura mais crítica da realidade e possui uma formação humana mais ampla, capaz de estimular a produção simbólica nas crianças. “Como considerar na criança e propor a ela aquilo que não faz parte do seu próprio acervo?”, questiona. Por isso ela vê a necessidade premente da instauração de políticas públicas nessa área e de uma proposta de formação que considere “o sensível e o inteligível”. “A formação estética deveria fazer parte do currículo, embora só estar presente não garanta nada. Hoje há a disciplina de ‘arte’, mas é por um período muito curto”, ressalta
Se a formação básica não garante, a formação em serviço tem que garantir ao menos duas saídas no ano para ampliação do repertório cultural de toda equipe educadora.
Durante todo tempo que atuo no magistério nunca passei por uma unidade, seja da rede pública ou privada, que pensasse nesta questão, porém tive a sorte de nascer em uma familia que valoriza as artes nas diferentes dimensões.
Ah! Mais é complicado meus professores não gostam.
Volto a repetir, ninguém pode dar aquilo que não tem, é necessário que os componentes da equipe gestora tenham esta formação e acreditem que faz a diferença para poder vender a idéia para a equipe educadora.
Mas ir ao cimena ou ao teatro é caro!
Este argumento não vale para a cidade de São Paulo que a cada dia aparece um espaço cultural apresentando coisas maravilhosas e gratuitas.
Uma coisa interessante é sempre pensar o que é possivel fazer na escola na qual eu atuo, seja como professor ou equipe gestora.
Mercado Municipal Paulistano - Feira do Livro 2010


Das 9h às 17h, freqüentadores do maior mercado paulistano poderão conhecer novidades de nove editoras
O tradicional Mercado Municipal da Cantareira, ligado à Secretaria Municipal de Coordenação das Subprefeituras, terá novidade para seus cerca de 30 mil freqüentadores diários. Entre 15 e 30 de abril, das 9h às 17h, todos terão à disposição uma feira de livros com algumas das maiores editoras brasileiras.
Com entrada gratuita, o evento contará com a participação de expositores como as editoras Arlf, Brasiliense, Barcarolla, Faarte e Iracema, além da presença da Nova Luz Livraria, Ciranda Cultural, grupo Quilombhoje Literatura e da Publifolha.
As editoras e livrarias apresentarão seus produtos e novidades com preços atrativos para os visitantes do Mercadão, no Salão de Eventos do local.
O evento ainda terá um cantinho para a “contação” de histórias, misturando artes cênicas, música e literatura. Diferentes grupos, como a Biblioteca Belmonte, Cantos & Contos e a contadora de histórias Ana Springer, se apresentarão nos finais de semana, sempre em dois horários, às 10 e às 14 horas.
Programação da contação de histórias
Dia 16 – 10 e 14 horas – Biblioteca Belmonte
Dia 17 – 14 horas – Ana Springer
Dia 23 – 10 e 14 horas – Cantos & Contos
Dia 24 – 10 e 14 horas – Biblioteca Belmonte
Dia 30 – 10 e 14 horas – Cantos & Contos
Feira do Livro no Mercadão
Data e horário: Entre os dias 15 e 30 de abril, das 9 às 17 horas.
Local: Rua da Cantareira, 306 – Salão de Eventos do Mercado Municipal
Letícia Xavier Pereira (Eventos)
Mercado Municipal Paulistano
SMSP/ABASTTel.:
(11) 3313-2444 ramal 231
EXPOSIÇÃO: PORTINARI NA COLEÇÃO CASTRO MAYA
Raimundo Ottoni de Castro Maia, conhecido filantropo, colecionador e bibliófilo, foi um dos mais importantes colecionadores da obra de Cândido Portinari. No Museu da Chácara do Céu, parte dos Museus Castro Maia no Rio de Janeiro, podem ser vistos importantes trabalhos coletados ao longo da carreira do artista, desenhos e projetos, assim como séries encomendadas especialmente pelo colecionador.
A mostra traz a São Paulo esse magnífico conjunto de Portinari, que propicia uma visão muito completa da obra do artista.
De 10 de abril a 06 de junho de 2010
Pinacoteca do Estado: Praça da Luz, 2 – fone 11 3324.1000 - Estação Pinacoteca: Largo General Osório, 66 – fone 11 3335.4990
Abertas de terça a domingo das 10h às 17h30, com permanência até as 18h
Ingresso combinado (Pinacoteca + Estação Pinacoteca):R$6,00 e R$3,00 (meia), entrada gratuita para menores de 10 anos, idosos acima de 60 anos anos e professores com hollerit. Grátis aos sábados.
TEATRO

"ALMA BOA DE SETSUAN", DE BERTOLD BRECHT




A história se passa na China. Os três deuses da peça são representados por um único ator, Ary França, que com uma pomba irreverente no ombro, é chamado de Santíssima Trindade. Ele vem a Terra em busca de uma alma boa e ao chegar à província de Setsuan, encontra entre outros, Chen Tê, interpretada por Denise Fraga é a única pessoa que se dispõe a dar-lhe um teto para dormir. Por sua generosidade, ele conclui ser ela a alma boa que tanto procurava e resolve presenteá-la com uma recompensa em dinheiro, o suficiente para ela comprar uma tabacaria e mudar de vida. Dona de seu próprio negócio, os miseráveis da cidade começam a abusar de sua bondade. Para se livrar dos importunos e exploradores, Chen Tê inventa a existência de um primo, Chui Ta, ela própria disfarçada. Chen Tê desaparece. O sumiço pode ser um golpe e a responsabilidade recai sobre seu primo. Como ser bom e ao mesmo tempo sobreviver no mundo competitivo em que vivemos? Esta é a questão levantada pelo dramaturgo alemão Bertolt Brecht na peça “A Alma Boa de Setsuan”.
Teatro TUCA - Rua Monte Alegre, 1024 – Perdizes
Temporada: 29/01 à 27/06.
Horários: Sex. e Sáb. às 21h30 e Dom às 19h.
Ingressos: Sex. - R$ 20,00 - Sáb. e Dom. - R$ 30,00 - (estudantes e professores da rede estadual pagam meia)
Sites interessantes:
Centro Cultural FIESP
Itaú Cultural
Centro Cultural Banco do Brasil

Equívocos em série

Aulas perdidas, desrespeito à diversidade cultural e à liberdade religiosa... Aqui, os dez erros mais comuns nas festas escolares

Julia Priolli mailto:gestao@atleitor.com.br


Durante o ano, temos 11 feriados nacionais - na média de um a cada cinco semanas -, um monte de datas para lembrar pessoas (Dia das Mães, dos Pais, das Crianças, do Índio) e fatos históricos (Descobrimento do Brasil, Proclamação da República). Sem contar os acontecimentos de importância regional. Nada contra eles. O problema é que muitas vezes a escola usa o precioso tempo das aulas para organizar comemorações relacionadas a essas efemérides. O aluno é levado a executar tarefas que raramente têm relação com o currículo. Muitos professores acreditam que estão ensinando alguma coisa sobre a questão indígena no Brasil só porque pedem que a turma venha de cocar no dia 19 de abril - o que, obviamente, não funciona do ponto de vista pedagógico.

Festas são bem-vindas na escola, mas com o simples - e importante - propósito de ser um momento de recreação ou de finalização de um projeto didático. É a oportunidade de compartilhar com os colegas e com os familiares o que os alunos aprenderam (leia mais no quadro abaixo). No entanto, não é isso que se vê por aí. A seguir, os dez principais equívocos dos eventos escolares.
1. O desnecessário vínculo com efemérides

Essa palavra estranha tem origem na astronomia e dá nome a uma tabela que informa a posição de um astro em intervalos de tempo regularmente espaçados. No popular, o termo é usado no plural e significa a seqüência de datas lembradas anualmente. Algumas têm dia fixo (Independência, Bandeira); outras, não (Carnaval, Dia das Mães). Até aí, nada de mais. O problema é quando a escola usa tudo isso como base para montar o currículo. "Planejar o ano letivo seguindo efemérides desfavorece a ampliação de conhecimentos sobre fatos e conceitos", afirma Marília Novaes, psicóloga e uma das coordenadoras do programa Escola que Vale, de São Paulo. Exemplo? Dia do Índio. A lembrança não envolve estudos sobre as questões social, histórica e cultural das nações indígenas brasileiras. Para haver aprendizagem, é preciso muita pesquisa e mais do que um dia festivo. Outro caso? Folclore. A escola é invadida por cucas, sacis e caiporas em agosto, já que o dia 22 é dedicado a ele por decreto. Ora, se o planejamento prevê o uso de parlendas e trava-línguas durante o processo de alfabetização e de estruturas narrativas, no ensino de Língua Portuguesa, que tragam informações sobre tradições, crenças e elementos da cultura popular, isso basta para que o tema seja tratado em qualquer época. Sem contar os tópicos cuja expressividade é questionável (Semana da Primavera) ou controversa, como o Dia dos Pais e o das Mães: "Enfatizar datas comerciais como essas é ignorar as mudanças no perfil da família brasileira, que nem sempre conta com as duas figuras em casa", completa a psicóloga
2. O desrespeito à liberdade religiosa

Dos 11 feriados nacionais, cinco têm origem no catolicismo (Páscoa, Corpus Christi, Nossa Senhora Aparecida, Finados e Natal). As escolas que seguem essa religião lembram as datas. O problema é que as escolas públicas também. Segundo a Constituição da República, o Brasil é um Estado laico, ou seja, sem religião oficial. Porém, em quase todas as unidades de ensino há algum tipo de comemoração: as crianças da Educação Infantil (não importa se têm ou não religião) se fantasiam de coelhinho e pintam ovos em papel mimeografado. No fim do ano, uma árvore de Natal, com bolas e luzes, é montada na recepção ou no pátio. Segundo o censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística nos anos 1990, a maioria da população brasileira (73%) é católica. Mas uma escola inclusiva não esquece que os filhos dos 15% de evangélicos e dos 12% de seguidores de outros cultos ou não pertencentes a um deles também estão na sala de aula, certo? Para Renata Violante, consultora pedagógica do Instituto Sangari, em São Paulo, os educadores não podem dar a entender que uma religião é superior a outra (quais são mesmo as datas importantes para espíritas, judeus, budistas, islâmicos e tantos outros?). Existem espaços próprios para cultos. Definitivamente, a escola não é um deles. As festas juninas são um caso à parte: elas se tornaram uma instituição e perderam o vínculo religioso. O enfoque folclórico, resgatando alguns hábitos e brincadeiras e a culinária do homem do campo, tornaas mais democráticas.
3. A confusão entre o currículo e o tema da festa

A festa não ter relação com o currículo é um problema. Mas outro tão grave quanto é usá-la como pretexto para ensinar. "Já que temos de fazer bandeirinhas para enfeitar barraquinhas, então vamos aproveitar para ensinar geometria", pensam alguns professores bem-intencionados, esquecendo que um ensino eficiente requer planejamento, avaliação inicial e contínua e uma seqüência lógica que leve à construção do conhecimento. É como se, de repente, estimar a quantidade de pipocas no saquinho virasse conteúdo de Matemática.

4. O mau uso das poucas horas dedicadas às aulas de Arte

Não raro, o espaço que seria utilizado para essa disciplina é convertido em oficina de enfeites. Para colocar o aluno em situação de aprendizagem, é papel do professor de Arte propor atividades que favoreçam o percurso criador. "A subjetividade não pode ser ofuscada pelo sentido objetivo e funcional do ornamento, com caráter unicamente estético", afirma José Cavalhero, coordenador pedagógico do Instituto Rodrigo Mendes, em São Paulo. Na confecção de bandeirinhas, por exemplo, as crianças são orientadas a seguir um modelo preestabelecido sem dar espaço a suas marcas pessoais nem enfatizá-las. O modelo, que serviria apenas como referência para a elaboração de outras possibilidades, vira matriz para cópias – e a arte é um procedimento mais abrangente do que isso. A produção do estudante deve ter um propósito maior do que atender à expectativa do professor. "Caso a ocupação do ambiente festivo seja encarada como uma instalação ou intervenção artística, aí, sim, o aluno aprende em Arte", afirma Cavalhero.

5. A estereotipação dos personagens

Caipira com dente preto e roupas remendadas em junho, cocares e instrumentos de percussão em meados de abril. Esses estereótipos não correspondem à realidade. Homens e mulheres que moram no interior não se vestem dessa maneira, e os índios brasileiros vivem em contextos bem diferentes. "É inconcebível se divertir com base em elementos que remetem à humilhação e à ridicularização do outro", diz Mario Sérgio Cortella, filósofo da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em sua opinião, essas práticas destoam da intenção educativa acolhedora e pluralista, pois, toda vez que se trata o outro com estranhamento, se promove a idéia de que há humanos que valem mais e outros, menos. "Quadrilha, sim, mas sem maquiagem nem fantasias grotescas que humilhem o homem do campo", completa Cortella.

6. A obrigatoriedade da participação

"Professora, não quero dançar", diz um. "Tenho vergonha de falar na frente de todo mundo", avisa outro. Quem já não ouviu essas frases dias antes de um evento escolar? Quando a festa nada tem a ver com a aprendizagem, os alunos não são obrigados a participar. Nesses casos, é proibido causar qualquer tipo de constrangimento a eles. Cabe ao professor colocar pouca ênfase nos momentos não relacionados ao aprendizado. "Imagine o que uma criança sente quando é colocada à força no meio da quadrilha. É uma atitude desrespeitosa com os sentimentos e a individualidade dela", afirma Maria Maura Barbosa, do Centro de ocumentação para a Ação (Cedac), de Paraupebas, a 700 q uilômetros de Belém. Ela afirma ainda que alguns pais optam por não se envolver por razões financeiras. "Quem não tem condição de arcar com uma fantasia para os filhos fica envergonhado e não participa. Fala-se tanto em inclusão, mas as festas às vezes excluem."
7. A finalidade incerta dos recursos arrecadados

Pequenas reformas, mobiliário novo, material pedagógico... Quando a verba que vem da secretaria não dá para comprar tudo, pensa-se em festa para arrecadar fundos. A comunidade é convidada, participa, gasta, e muitas vezes não fica sabendo o destino dos recursos. Pior, às vezes o dinheiro que seria usado na ampliação da biblioteca ou na compra de computadores vai para outro fim. A solução é divulgar o objetivo da iniciativa e prestar contas quando o bem for adquirido. Em tempo: a arrecadação sempre aumenta quando bebidas alcoólicas são vendidas. Renata Violante não acredita em meio-termo: "A bebida deve ser proibida. Os diretores que inventem outras maneiras de obter mais dinheiro".

8. O objetivo principal ser apenas atrair os pais

Eles não costumam ir às reuniões, não conversam com os professores sobre o avanço dos filhos e mal conhecem a escola. Os diretores pensam: "Quem sabe, para se divertirem, os pais venham até nós". Embora os momentos de confraternização com os familiares sejam importantes, eles não devem ser a única maneira de envolvê-los. Reuniões marcadas com antecedência e planejadas para compartilhar o processo de aprendizagem e a produção intelectual, artística e esportiva das crianças são as iniciativas que exibem os melhores resultados quando o objetivo é atrair e conquistar as famílias.

9. A única maneira de socializar a aprendizagem

Um dos objetivos da escola deve ser exibir a produção intelectual e artística do aluno, principalmente aos pais, nas mais variadas ocasiões. Fazer uma festa é apenas uma possibilidade, por isso não deve ser usada em excesso. Geralmente, o caráter de recreação costuma dificultar a apresentação dos saberes. "Já feiras e exposições favorecem o foco no conhecimento e permitem ainda situações de comunicação oral formal, importante maneira de compartilhar o aprendizado", explica Maura Barbosa, do Cedac. Exemplos: um seminário sobre um conteúdo trabalhado em Ciências ou um sarau de poesia. (E, depois disso tudo...)

10. O precioso tempo jogado fora

Usar a sala de aula ou o período que deveria ser dedicado a atividades pedagógicas para os preparativos é um desrespeito com as crianças e com o compromisso que a escola tem de ensinar. "O diretor raramente investe na ref lexão sobre os indicadores de aprendizagem dos alunos o mesmo tempo que gasta com a produção dos eventos. O professor, por sua vez, deixa de promover situações intencionais de ensino", afirma Maura. Se a festa não é concebida como maneira de contextualizar os conteúdos aprendidos, ela deve ser organizada sempre em horários alternativos aos das aulas.
Tem de ter festa!
Ninguém é contra festas, desde que elas sejam para recreação pura e simples ou uma maneira de socializar o aprendizado. As do primeiro tipo podem envolver todos e ser muito divertidas, desde que não ocupem o tempo de sala de aula na organização. Já as que são planejadas para finalizar o estudo de determinado conteúdo exigem muito preparo. Quando o evento faz parte do projeto didático, o tema precisa ser previsto no currículo (e é dispensável a relação com efemérides) e nada mais justo do que usar o tempo de sala de aula para a sua produção (que também envolve aprendizado). Antes de bolarem o evento junto com o professor, os alunos certamente serão convidados a pesquisar, levantar hipóteses, realizar diversos tipos de registros e trocar conhecimentos com os colegas. Já que a festa é uma das etapas do processo, fica proibido deixar alguém de fora. Se um aluno não quiser participar por qualquer motivo, cabe ao professor envolvê-lo e ajudá-lo a superar as dificuldades que surgirem, seja em relação a timidez, seja em relação a habilidades de comunicação.
Extraido da revista Nova Escola: http://migre.me/xfvc

domingo, 4 de abril de 2010

62 ANOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Um outro mundo é possível!

Bete Godoy


Em 10 de dezembro de 1948 foi criada pela ONU a Declaração Universal dos Direitos Humanos e como é dito em seu preâmbulo "como o ideal a ser atingido a todos os povos e todas as nações, com o objetivo de cada indivíduo e cada orgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades..."

Baseada na DUDH a Declaração dos Direitos da Criança foi criada em 20/10/1959 para complementar o que já era mencionado anteriormente e dedicar a fase mais importante da vida das pessoas mais carinho e atenção.

A problemática da infância e da adolescência adquire especial relevância no dramático contexto internacional atual, assim como na situação no nosso país, tão marcada por uma história de exclusão, desigualdade e violência.
Diante de tais fatos a educação em direitos humanos vem se afirmando em toda América Latina e privilegia os direitos das crianças e adolescentes enfatizando na educação três dimensões:
1. Formação de sujeitos de direitos em nível pessoal e coletivo.
2. Promover processos de “empoderamento”, principalmente orientados aos atores sociais que historicamente tiveram menos poder na sociedade, poucas possibilidades de influir nas decisões e nos processos coletivos. Liberando, o poder, a potência que cada pessoa tem para que ela possa ser sujeito de sua vida e ator social.
3. Processos de transformação necessários para construção de sociedades verdadeiramente democráticas e humanas. Vera Maria Candau chama de “educar para o nunca mais”, para resgatar a memória histórica, romper a cultura do silêncio e da impunidade ainda presente em nosso país.
Somente assim é possível construir uma cidadania em que se articulem igualdade e diferença para todos.











No âmbito educacional os educadores a partir do projeto pedagógico de sua unidade devem oportunizar no cotidiano das instituições vivências de práticas culturais que sejam estimuladoras do desenvolvimento das crianças, acolhedoras de suas diversidades e promotoras de:

Um pensar criativo e autônomo, conforme a criança aprende a opinar e a considerar os sentimentos e a opinião dos outros sobre um acontecimento, uma reação afetiva, uma idéia, um conflito.
Uma sensibilidade que valoriza o ato criador e a construção de respostas singulares pelas crianças, em um mundo onde a reprodução em massa sufoca o olhar.
Uma postura ética de solidariedade e justiça que possibilite à criança trabalhar com uma diversidade de pessoas e de relações que caracteriza a comunidade humana, e a posicionar-se contra desigualdade, o preconceito, a discriminação e a injustiça.









Relacionar-se com outras crianças de modo mutuamente agradável constitui tarefa fundamental não só pela importância das interações infantis na aprendizagem, já apontada, mas em contrapartida à crise de solidariedade que marca hoje nossa sociedade, tão individualista.












A Educação em direitos humanos convida todos a aprender com as crianças a olhar e a virar pelo avesso, a subverter a ordem estabelecida. Vivenciar situações de aprendizagens ligadas às práticas culturais não significa meramente reproduzi-las é preciso que os educadores questionem a serviço de quem ela está posta e qual a sua contribuição para uma sociedade mais justa. Trouxemos esta temática por reconhecer que no período de 0 a 6 anos , os cuidados e as interações afetivas e socioculturais ganham relevância para que as crianças cresçam e para que se tornem pessoas promotoras de paz e o papel do adulto têm destaque tendo em vista a sua responsabilidade pela formação moral seja dos filhos ou dos alunos.

Para saber mais:

1-Kramer, Sonia e Bazílio, Luiz Cavalieri. Infância, educação e direitos humanos. Cortez editora.
2-kuhlmann Jr, Moysés. Infância e Educação infantil: uma abordagem histórica. Mediação.
3-Candau, Vera Maria. Sociedade, educação e cultura. Vozes
4-La Taille, Y. Moral e ética: dimensões intelectuais e afetivas. Artmed
5-Friedmann, Adriana. A cultura de paz na educação infantil. Revista Pátio. Julho de 2006
6-Orientações Curriculares. Expectativas de Aprendizagens e Orientações Didáticas. Educação Infantil. Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.
7-Orientações Curriculares. Expectativas de Aprendizagens para a Educação Ètnico-Racial. Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio. Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.