sábado, 1 de agosto de 2009

A OBSERVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Carta aos Educadores
Bete Godoy


Escrevo sem ter a intenção de produzir mais um texto teórico sobre a avaliação, mas como quem quer partilhar idéias, sentimentos sobre algo no mínimo desafiador no âmbito educacional.

Avaliar é algo próprio da natureza humana, o tempo todo expressamos juízos de valor sobre algo, mas quando o termo é pronunciado logo nos remetemos ao contexto escolar.

Ao avaliar o desenvolvimento de uma criança ou de um aluno estamos também analisando e refletindo sobre o conjunto de oportunidades de aprendizagens que foram planejados pelo professor e quando está a serviço do sucesso de ambos tudo se torna mais fácil, saímos do campo da disputa para a construção da parceria indissociável.

Quando me deparo com educadores da infância perdidos com seus relatórios que devem apontar as fases da escrita de crianças de 4 anos ou com situações a serem observadas igualmente para todas as criança por meio de um X, surge uma inquietação pedagógica.

Com isso não desconsidero que situações de aprendizagens possam ser analisadas pelos seus avanços ou dificuldades a partir de um trabalho planejado e a importância do professor saber sobre a construção da escrita, por exemplo, mas investir o tempo pedagógico em apuração de dados que muitos dos educadores nem sabem ao certo o que fazer com eles, parece um tempo desnecessário.

Essa é a razão pela qual pensei em um subtítulo: em defesa da infância e de boas práticas pedagógicas para o texto que segue abaixo. Se isso for um princípio adotado pelo educador ( que as crianças tenham direito a infância) e as práticas planejadas tratarem com o devido respeito, acredito que teremos crianças sensíveis a qualquer aprendizagem.


Pintar o carrinho que tanto gostam de brincar é um experiência artística inesquecível para as crianças.




Oferecer as crianças a oportunidade de conhecer histórias, autores, culturas e outros gêneros literários amplia o repertório das crianças e desenvolve o comportamento de leitor.




A OBSERVAÇÃO E A AVALIAÇÃO NA EDUCAÇÃO INFANTIL



A observação não é apenas um instrumento descritivo, mas um recurso de investigação e planejamento. È indispensável a quem acompanha o desenvolvimento da criança valorizar o momento onde ela durante sua manifestação espontânea ou não, pode revelar ou desvelar saberes, desejos e intenções sobre si mesma e sobre o mundo.



O que as crianças revelam enquanto brincam?




Quando o professor se predispõe a ouvir e enxergar o fazer, o falar e valorizar os momentos de interação (criança-criança, criança-materiais e criança-professor) com certeza terá um rico material para planejar sua prática levando em consideração o que elas já sabem e respeitando o seu tempo de criança.



Uma dificuldade apontada constantemente pelos professores é “o que considerar importante” para compor o registro de cada criança. Quando “o observado” parte do planejado a pergunta a priori é o que elas podem aprender ou vivenciar diante da prática planejada que se justifique tal fazer, ou seja, qual o objetivo do que está sendo proposto. Mas, devemos também considerar que as crianças aprendem mesmo quando não temos a intenção de ensiná-las e que sabem muitas coisas que não foram ensinadas por nós ou no convívio da escola.




Crianças investigando, levantando hipótese e construindo conceitos.


A criatividade uma das chaves para compreender o mundo.


Sair do registro meramente comportamental para um que seja abrangente e ao mesmo tempo particular, que a respeite enquanto sujeito, com suas potencialidades cognitivas, sociais, artísticas e afetivas e também como um ser que se relaciona com os objetos e o mundo redimensiona o olhar do observador.



Vivemos em mundo repleto de simbolos e códigos.
Como oferecer e utilizá-los a serviço do desenvolvimento humano e não de doutrinação?
Ao escrever cada professor imprimi o seu olhar sobre o sujeito como um todo e não apenas a luz de um único critério. Assim, é possível conter neste registro elementos poéticos de quem observa o humano na sua totalidade e não apenas uma transcrição de dados quantitativos de uma cabeça pensante.

Como se vê, observar a criança com os olhos de quem a reconhece em constante desenvolvimento, modifica a postura do professor não só na dimensão pedagógica, mas também ética frente à cultura infantil. Transformar essas informações em avaliação, ou seja, expressar um juízo sobre o que vemos e ouvimos revela antes de qualquer coisa a maneira como consideramos ou reprovamos o fazer, o saber e o sentir de uma criança.



Crianças brincando.
Crianças aprendendo.
Crianças se constituindo enquanto sujeito.




A hora da alimentação é um momento importante para socialização de saberes, preferências e desejos.


Não é tão fácil uma vez que carregamos idéias, sentimentos e valores construídos por nossa história pessoal e profissional, mas chegar à capacidade de razoabilidade para julgar incorrerá em menor erro se formos constantemente mediados por boas teorias e práticas com intenção pedagógica de favorecer o desenvolvimento da criança em todas as dimensões humanas.